quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

Uma triste história de amor
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Era uma vez, um cara. Seu nome não é importante, nem sua idade ou endereço. Como em todas as histórias, esse cara gostava de uma garota. Na verdade, ele a amava — ou pelo menos pensava que sim — desde que se entendia por gente. Ele a conheceu ainda criança, no jardim de infância. Brincavam, se sujavam, riam — eram amigos. Duas crianças bobas e inocentes. Ele não sabia o que era o amor, mas quando ela chegava perto dele, seus olhos brilhavam. O coração acelerava, e a respiração ficava ofegante. Era impossível ignorar a presença dela, que o castigava todos os dias. Ele ficava por horas olhando para os compridos cabelos loiros e ondulados que ela tinha. Estudavam na mesma escola, sempre, e sempre na mesma sala de aula. Gostava  do jeito com que passava as páginas do caderno, e a maneira como segurava a caneta. Decorou o pedido na cantina. Sabia o tamanho do grafite na sua lapiseira. Adorava o sorriso dela. Era o que despertava nele os sorrisos mais sinceros. Observava-a cuidadosamente para que não o notasse. Ele sabia de tudo sobre elamas nada sabia do seu coração. Mas duvidou muito que fosse ele que habitasse ali. Passaram os anos, cresceram os dois, e ele descobriu que a amava, realmente. Mas nunca disse isso a ela. Ele a desejava, mas tinha medo de perdê-la para sempre. Não suportaria uma rejeição. Preferiu manter aquele sentimento para ele só. Em seus pensamentosela o pertencia. Na verdade, era mais só do que imaginava ser. Ele queria que ela soubesse do que sentia, mas ele esqueceu que as pessoas não escutam os pensamentos. Pior, não deixava que tentassem entende-lo pelos olhos, que insistia em manter fechados — nem tampouco pelas palavras que jamais saíram de sua boca. Nunca disse o que sentia, mas de alguma maneira, ele queria que ela soubesse. Preferiu se calar do que gritar algo que achava que poderia ensurdecê-la. Vivia só. Nunca teve ninguém. Não contava sobre seu sentimento para nenhum de seus amigos. Passou 10 anos de sua vida quieto, em silêncio, triste. Tanto queria falar, tanto quanto queria ouvir. Tinha tanto pra oferecer, mas também queria receber. Seu medo deixou-o cego. O tempo tornou-o inseguro. A apatia os separou. Nem mesmo suas amizades duravam muito tempo. Era aquele que vivia pelos cantos. Sentava sozinho na hora das refeições. Não praticava esportes. Era triste como início de inverno. Nunca se interessou por nenhuma outra garota. Era visto como o estranho, antipático, chato e gay. Sim, gay. Todas as tentativas de aproximação eram descartadas por ele. Propostas tentadoras, ignorava. Ela era o seu foco. Seu ponto de chegada que jamais seria capaz de atravessar. Uma magnitude de satisfação que não seria nunca capaz de alcançar. Ninguém o entendia. Nem ele próprio. Nunca se permitiu entender. Nunca explicou seus motivos, nem para si mesmo. Não acreditaria. Sabia que não seria convincente o suficiente. Nem mesmo para ela. Ele escolheu manter em segredo, para manter sincero e inocente o sentimento de criança que nele havia. Esperou o tempo passar para diminuir o que sentia, em vão. Esperava o impossível. Tão perturbador como jamais tê-la era a idéia de jamais esquecê-la. Todos os dias eram uma dura batalha individual que travava em silêncio. Nunca se considerou bom o suficientemente para ela. Era o que dizia para si mesmo a todo instante. Repetiu tanto que se convenceu. Conseguiu se enganar com sua própria ilusão. Passou a vida enganado. Começou a evitar as pessoas. Fechou-se em seu próprio mundo para que ninguém mais o achasse, mas ele mesmo se perdeu. Hoje, ele é um homem. Ela, uma mulher. Não se falam mais. Perderam o contato. Cada um seguiu sua vida como achou melhor — ou como foi preciso — e hoje nada sabem um da vida do outro. Ele nunca se convenceu da própria felicidade. Ainda é tomado pelo silêncio. Não sabe o que quer, mas sabe o que faz. É assombrado pelo fantasma do descaso. É angustiado por nunca ter dito o que sentia. Suas decepções o ensinaram bem. Ele aprendeu que os passos que decidimos dar não nos leva sempre para onde realmente desejamos ir. Aprendeu que o silêncio pode ser desapontador para algumas pessoas. Aprendeu que as oportunidades vêm e se vão, talvez para sempre. Aprendeu que a coragem é tão grandiosa quanto o próprio amor. Aprendeu também que, não importa quantos anos se passem, as coisas não mudam se nós mesmos não mudarmos primeiro. O triste é que ele aprendeu isso tarde demais.

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